RESENHA: O álbum 'Power Of The Night' do Savatage · São Gallö

Um chamado aos selvagens e a afirmação de uma das grandes bandas do metal estadunidense

Se os anos dourados do Classic Rock já haviam passado, o metal vivia seu ápice desde o começo da década de 1980. Os vocais poderosos e distorcidos ganhavam a cabeça dos metalheads; impressionantes agudos como os de Rob Halford e King Diamond ou técnicos como Bruce Dickinson e Ronnie James Dio, ou até mesmo outros que pareciam emular um trator Ford 6600 em pleno labor: Lemmy Kilmister, Udo Dirkschneider e Blackie Lawless. Como unir tudo isso em uma só voz nós não sabemos exatamente, mas Jon Oliva – Savatage – aparentemente sabia.

Talvez inspirados (vai saber) pelo trator Ford citado acima, em 1979 os irmãos Criss e Jon Oliva, naturais da Flórida, fundaram o Savatage. Sabemos hoje que seus maiores clássicos viriam quase uma década após a fundação da banda: a partir do absurdo Hall of the Mountain King de 1987 é nítido o aprimoramento nas composições, mas todo o gás que a banda emanava já vinha sendo mostrado desde o primeiro álbum, Sirens (1984). Contudo, como em quase todos os casos, um trabalho em específico marca a afirmação de um estilo próprio, e para o Savatage esse trabalho foi o espetacular ‘Power Of The Night’, segundo da extensa discografia.

Um pé na porta e o poderoso riff de guitarra da música título ganha seus speakers, com uma sonoridade consistente e pesada como um grande álbum de metal dos 80’s. Curiosidade para uma banda do estilo, Criss era o único guitarrista oficial da banda nessa época, ao passo que adicionavam outros músicos de apoio para suas turnês. Na bateria titular, Steve Wacholz (vulgo “Doc Killdrums”) era tão preciso e rápido quanto a banda precisava, com Keith Collins no baixo completando a cozinha.

A Playlist de ‘Power Of The Night’

Assim que Jon Oliva inicia sua participação no primeiro minuto da faixa título ‘Power Of The Night’, é clara toda sua auto confiança e domínio de sua voz. Presença avassaladora, um clássico drive que adiciona ainda mais tensão e agudos reconhecíveis a quilômetros de distância, chamando os selvagens através do poder da noite – “THRASHING, SCREAMING, TWISTING, BANGING!!!”. O álbum segue com ‘Unusual’ e ‘Warriors’, mais cadenciadas, a segunda soando como uma homenagem aos soldados que lutam por suas vidas e pela liberdade de seus povos. ‘Necrophilia’ não é lá um título muito comum, mas ela tinha mãos geladas, olhos de cadáver e uma alma amaldiçoada – fazer o que?! Novamente agudos impressionantes acompanhados de um vibrato característico de Jon, outra grande atuação.

‘Washed Out’ é veloz, agressiva e se encaixaria perfeitamente em qualquer ‘Restless and Wild’ da vida, com um potencial para guitarras gêmeas indiscutível. ‘Hard For Love’, por outro lado, é um Def Leppard dirigido pelos vocais de Jon, com backings que me fazem lembrar até mesmo de Autograph.

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‘Fountain Of Youth’ retorna ao estilo que consagrou a banda, menos rápido e mais pesado. Tocado por Jon, um teclado muito evidente confere um tom mítico a música e faz a ponte entre refrões e agudos que serpenteiam as notas, seguidos de um solo rápido porém bem encaixado. ‘Skull Session’, ‘Stuck On You’ encaminham o álbum para seu fim, porém de repente nos vemos diante da única balada do álbum: ‘In The Dream’ é belíssima, emotiva e quase apelativa, ou seja, aquela homenagem perfeita para sua amada que partiu. Não tem erro, mande para ela que ela volta com certeza! Brincadeiras à parte, grande trabalho novamente de Criss Oliva, que grande guitarrista o mundo perdeu tão jovem.

O Savatage pós-Power Of The Night

Os anos se seguiriam, Zak Stevens ainda faria história nos vocais da banda e eles mostrariam aos metalheads do mundo todo seu valor. Entretanto, nunca teriam o reconhecimento merecido, sobretudo Criss Oliva, morto em 1993 em um trágico acidente de carro. Notório guitarrista, citado por diversos companheiros de profissão, inexplicavelmente não obteve lugar em capas de revistas especializadas de sua época, bem como o Savatage não é constantemente citado pela mídia metaleira mundial. Bom, que seja, não precisam de mais nada, sua obra e legado falam por si e o poder da noite ainda reina.