A ‘Marcha Contra a Guitarra Elétrica’ ocorreu em 67′ em São Paulo é lembrada ainda hoje por sua fracassada tentativa em barrar inovações na música brasileira.
O movimento liderado por Elis Regina em 17 de julho de 1967 teve origens nas preocupações dos artistas da Música Popular Brasileira (MPB) em relação à crescente influência da guitarra elétrica e às mudanças que ela representava para a identidade musical do Brasil. O movimento, embora não diretamente contra a Jovem Guarda, refletia uma resistência à assimilação de elementos estrangeiros, especialmente aqueles associados ao rock, que estavam se tornando cada vez mais proeminentes na cena musical.
Motivo de Preocupação
Elis Regina, como ícone da MPB, percebeu a guitarra elétrica como uma ameaça à autenticidade da música brasileira, que tradicionalmente incorporava elementos mais acústicos e tradicionais. Havia um temor de que a introdução desse instrumento estrangeiro pudesse diluir as raízes culturais da música do Brasil, comprometendo sua singularidade.
A Jovem Guarda, liderada por artistas como Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, estava associada a um estilo mais jovial e pop, também influenciado pelo rock internacional. Embora não fosse o alvo direto da manifestação, o movimento liderado por Elis Regina expressava uma preocupação mais ampla com a preservação da identidade musical brasileira em meio a mudanças significativas na cena musical causada pelo gigantesco sucesso da Jovem Guarda.
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Artistas Participantes
A marcha contra a invasão da guitarra elétrica contou com a participação de diversos artistas renomados da Música Popular Brasileira (MPB). Além da icônica Elis Regina, outros músicos influentes se uniram ao movimento, expressando sua oposição à crescente presença da guitarra elétrica na cena musical brasileira. Entre os participantes notáveis estavam: Geraldo Vandré, Zé Keti, Gilberto Gil, Jair Rodrigues e Edu Lobos.
Esses artistas, juntamente com outros engajados na MPB, formaram uma frente unida durante a marcha, levantando cartazes e expressando sua preocupação com o impacto da guitarra elétrica nas raízes culturais da música brasileira.
O Percurso da Passeata
A passeata ocorreu na capital paulista, partindo do Largo São Francisco com destino ao Teatro Paramount, na avenida Brigadeiro Luís Antonio, onde ocorreria o programa ‘Frente Ampla da MPB’. Os manifestantes carregavam cartazes com mensagens impactantes como “Defender o Que É Nosso” e “Passeata da MPB”, expressando claramente sua objeção à incursão da guitarra elétrica na música brasileira.
A Posição dos Tropicalistas
O movimento teve, contraditoriamente, até mesmo a presença de Gilberto Gil, ligado ao Tropicalismo, ao lado dos manifestantes. Em uma entrevista reveladora ao Estado de São Paulo em 2012, Gil esclareceu sua participação, destacando a dimensão cívica e a defesa da brasilidade como motivos fundamentais.
“Eu participava com ela [Elis] daquela coisa cívica, em defesa da brasilidade, tinha aquela mítica da guitarra, como invasora, e eu não tinha isso com a guitarra, mas tinha com outras questões, da militância, era o momento em que nós todos queríamos atuar.”
Gilberto Gil
Caetano Veloso, representante do Tropicalismo, observou a passeata do terraço do Hotel Danúbio, perplexo com a ideia de limitação musical. Surpreendentemente, Caetano optou por não participar, reconhecendo que as implicações negativas da manifestação não alinhavam-se com suas próprias afirmações naquele momento.
No documentário “Uma noite em 67”, Caetano Veloso recorda a cena que assistiu da janela do Hotel Danúbio, ao lado de Nara Leão.
“Nara, acho isso muito esquisito”, ele teria dito. Nara devolveu:
“Esquisito, Caetano? Isso aí é um horror! Parece manifestação do Partido Integralista. É fascismo mesmo.”
A Guitarra Elétrica e Outras Inovações
A manifestação contra a invasão da guitarra elétrica não foi apenas um protesto isolado, mas sim um reflexo dos conflitos culturais e políticos da época. As divergências entre os artistas da MPB e a ditadura militar moldaram não apenas a trajetória da música brasileira, mas também deixaram um legado de resistência e expressão artística.
A marcha de 1967, liderada por Elis Regina, nos faz refletir sobre a imbecilidade de proibir inovações no campo artístico. A verdadeira magia da arte está em sua capacidade de se reinventar e transcender limites. Estar aberto a diferentes estilos e instrumentos é o que torna a arte verdadeiramente fantástica.
Formado em Publicidade e apaixonado pelo universo da música e das bebidas, Jefferson criou o São Gallö como um hobby, onde compartilha curiosidades e histórias fascinantes desses dois mundos.