Dessa vez, o levaremos a percorrer caminhos mais obscuros do que de costume, mas não se assuste, tem até sax nesse play, então não pode ser tão pesado assim, certo?
O The Damned é uma das mais tradicionais bandas da cena Punk britânica, mas é também conhecida pelos contornos góticos que adotou ao longo dos anos. E é justamente sobre um dos álbuns mais marcantes dessa fase que falaremos hoje.
O ano era 1985, e enquanto o Love and Rockets preparavam seu debut Seventh Dream Of Teenage Heaven (do qual podemos falar aqui no São Gallo algum dia) e o The Sisters Of Mercy lançava o grande First And Last And Always, o The Damned entrava em estúdio para gravação de seu sexto álbum, Phantasmagoria.
Após algumas mudanças no lineup da banda, Dave Vanian e Rat Scabies seguiam firmes e fortes em sua nova proposta sonora, já introduzida, porém de maneira mais sutil, no álbum Strawberries (outro grande álbum em potencial para discutirmos aqui), distanciando-se cada vez mais da crueza dos trabalhos anteriores. Enfim, vamos ao que interessa.
O álbum se inicia com Street Of Dreams, anunciada por um surpreendente saxofone tocado por Gary Barnacle (Phill Colins, Paul McCartney, Pet Shop Boys), que funciona perfeitamente. A bateria de Rat Scabies marca o ritmo em um uptempo beat, mais um sinal de maturidade e composições mais bem elaboradas que esse álbum viria a apresentar. O refrão é pegajoso e viciante, seguido por um “oh eee oh eee oh” que deixa claro que essa música também funcionaria bem ao vivo.
Shadow Of Love segue com uma sonoridade mais obscura, guitarras mais cheias de efeito e que fazem uma base interessante para a voz profunda de Dave Vanian, que canta sobre amor de uma forma, digamos, peculiarmente gótica, ascendendo velas é claro. There’ll Come A Day chega com uma levada mais leve e vocais menos dramáticos, porém com o baixo de Bryn Merrick muito bem destacado numa excelente cozinha.
O tempo fecha novamente e um (maravilhoso!) órgão anuncia a quarta faixa do álbum, Sanctum Sanctorum. Melancólica, nos remete a uma típica cena de filme de terror e nos lembra que “sometimes angels can be devils too”. Mas a tristeza passa e o vento sopra para Is It A Dream dar o ar da graça com sua melodia simples, porém cativante, acompanhada por um sutil e eficaz trabalho de percussão feito por Luís Jardim (Seal, Bee Gees, David Gilmour).
Grimly Fiendish vem em sequência pedindo para ter uma levada mais shuffle que só acontece no fim, porém possui uma bela melodia e mantém o ar fresco e radialístico para a chegada da ótima Edward The Bear, cantada por Roman Jugg. O álbum vai ganhando contornos finais e a excelente The Eighth Day marca a última participação vocal de Dave Vanian no álbum, com a instrumental Trojans fechando um play histórico.
Phantasmagoria passou a ser, para muitos fãs e para a crítica em geral, o álbum definitivo da banda, o masterpiece, porém ainda há uma grande chance de você nunca ter ouvido falar dele antes. Mas não tem problema, se apresse e confira essa obra-prima você mesmo. Ah, e sempre lembrando, sem nota de 0 a 10, nunca é justo.
Profissional da área da saúde e amante da música desde sempre. É baterista nas horas vagas e tem uma paixão especial pelo rock progressivo.
Sensacional…eu quando punk na adolescência achava o The Damned esquisito e chato, mal conseguia ouvir o Damned, Damned, Damned ..(pois gostava mesmo era de barulheira – Hard Core, Oi! e o UK82) hoje se tornou umas das minhas bandas preferidas de todos os tempos !! Strawberries é o meu favorito, mas tenho ouvido bastante o Phantasmagoria nessas ultimas semanas que se passaram…