A garrafa Heineken Wobo foi desenhada com o propósito da conservação ambiental bem antes mesmo do tema ter a atenção que hoje ocupa nos noticiários.
Durante uma turnê mundial para visitar suas fábricas cervejeiras, o proprietário da Heineken, Alfred Heineken, se deparou com uma realidade a qual ele ainda não conhecia.
Foi em Curaçao que o holandês presenciou o degradação do meio ambiente. Várias garrafas abandonadas na natureza, ocupavam o espaço que até então pertencia a bela paisagem natural daquele país. Além do problema ambiental, havia também o problema social com a falta de materiais para construções civis entre os mais pobres.
Assim como toda ideia brilhante parte para a solução de um problema, Alfred retorna ao seu país de origem e decide procurar o arquiteto N. John Habraken para dar vida à sua visão: retirar as garrafas da natureza e utilizá-las nas moradias para as famílias de baixa renda.
O cervejeiro holandês aguardou pacientemente por três anos até ver sua ideia nascer: a Heineken Wobo (junção de World Bottle) – uma peça de vidro verde esmeralda feita sob medida para servir tanto como uma garrafa de cerveja e um material de construção.
O design da Heineken WoBo
Em 1963, a cervejaria produziu um teste de 100.000 garrafas. O design era, é claro, uma garrafa de cerveja funcional, mas quando esvaziada e colocada de lado, tornava-se um tijolo de vidro auto alinhado e interligado.
O design de Habraken permitia que o gargalo de uma garrafa fosse encaixado na base da próxima, enquanto as laterais eram forradas com fileiras de pequenas saliências que tornavam mais fácil para as pessoas segurarem e encaixar com mais facilidade nas outras garrafas. Assim, economizaria até mesmo nas massas para construção.
Com este projeto, uma cabana básica de pouco mais de 3m² poderia ser construída utilizando mil “tijolos”.
Para superar o problema de criar cantos e aberturas sem ter que modificar as garrafas, elas foram projetadas em dois tamanhos: uma versão de 500mm e uma ‘meio tijolo’ de 350mm.
O conceito revolucionário chamou a atenção do autor e crítico de arquitetura Martin Pawley: “O primeiro contêiner de produção em massa já projetado desde o início para uso secundário como componente de construção”.
Alfred Heineken era tão insistente que a Wobo fosse usado como tijolo que ele planejou imprimir instruções de construção na lateral de cada garrafa. Habraken até sugeriu enviar as garrafas em paletes de plástico especiais que poderiam ser reutilizadas como teto das construções.
Por que a Heineken Wobo não deu certo?
Apesar do otimismo do proprietário da Heineken, o departamento de marketing da cervejaria não “comprou a ideia”. A WOBO não estava isenta de problemas.
Enquanto as garrafas de vidro normais podem suportar até 50kg em pé, essas foram colocadas na horizontal, o que exigia um vidro mais espesso. Além disso, seu físico quadrado os tornava propensos a lascar em trânsito e durante a construção, e não havia como juntar duas garrafas se elas se encontrassem de ponta a ponta.
O Marketing da marca holandesa também levantou a possibilidade de a empresa ser responsabilizada se uma casa desmoronasse.
Além da falha no posicionamento da Heineken, em relacionar a marca premium com a pobreza, deteriorando assim imagem da cervejaria.
As últimas Garrafas-Tijolos
A ideia, infelizmente, saiu dos holofotes mas mesmo assim duas estruturas foram construídas: uma pequena cabana de vidro e um galpão – ambos foram adaptados com paredes WOBO localizadas na propriedade Heineken em Noordwijk perto de Amsterdam.
As garrafas Heineken Wobo ficaram longe de serem o material de construção acessível em larga escala que deveriam ser. Hoje, tornaram-se itens raros de colecionadores do mundo todo.
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