A música brasileira tem uma riqueza cultural inegável, e ao longo dos anos, várias de suas canções foram objeto de plágio ou utilizadas como samples por artistas internacionais. Neste texto, exploramos alguns dos casos mais notórios, destacando como a criatividade do nosso povo influenciou a cena musical global resultando em casos de músicas brasileiras plagiadas.
Adele e “Million Years Ago” vs. “Mulheres” de Martinho da Vila
Uma das vozes mais marcantes da música brasileira, o compositor Toninho Geraes, está acusando a cantora britânica Adele de plágio. A canção em questão é o sucesso “Mulheres”, interpretada por Martinho da Vila em 1995, que teria sido copiada na faixa “Million Years Ago”, do álbum “25” de Adele, lançado em 2015.
A polêmica se intensifica com a revelação de que o produtor de “Million Years Ago”, o americano Greg Kurstin, é um grande admirador da música brasileira e possui amplo conhecimento sobre o gênero. Em sua biografia no Spotify, Kurstin relata ter se mudado para Nova York após o colegial para estudar música brasileira, inclusive aprendendo a tocar berimbau. Essa paixão pela música brasileira o influenciou em sua carreira e o levou a colaborar com grandes nomes como Paul McCartney, Sia, Foo Fighters e Pink.
A acusação de plágio se baseia em uma análise pericial que aponta que 88% da melodia de “Million Years Ago” é semelhante à de “Mulheres”. Geraes enviou notificações extrajudiciais à gravadora de Adele, a XL Recordings/Beggards Group, e à Sony Music, buscando o reconhecimento de sua autoria e uma indenização por danos morais e materiais.
O caso ainda está em andamento e ainda não há uma definição sobre a culpabilidade de Adele ou Kurstin. As semelhanças entre as músicas, no entanto, são inegáveis e levantam questões importantes sobre os limites da inspiração e da cópia na música.
Gotye e “Somebody That I Used to Know” vs. “Seville” de Luiz Bonfá
O cantor belga Gotye também já admitiu a inspiração brasileira por trás de seu grande sucesso, “Somebody That I Used To Know”.
A música, lançada em 2011 e que dominou as paradas mundiais, foi alvo de uma ação movida pela família do músico brasileiro Luiz Bonfá. A acusação apontava semelhanças entre o hit de Gotye e a canção “Seville”, lançada por Bonfá na década de 1960.
Diante das provas, Gotye não apenas reconheceu a influência de Bonfá na criação de “Somebody That I Used To Know”, como também se comprometeu a pagar uma indenização de US$ 1 milhão à família do artista brasileiro, que faleceu em 2001.
Em entrevista à Billboard, Gotye declarou que os riffs de “Seville” serviram como inspiração para os primeiros versos de sua canção, funcionando como ponto de partida para o desenvolvimento da letra, que abordava reflexões sobre relacionamentos amorosos fracassados.
Vale ressaltar que, na época de seu lançamento, “Somebody That I Used To Know” se tornou um fenômeno global, alcançando o topo das paradas em mais de 20 países.
Mcfly e “Happiness” vs. “A Bela e a Fera” de Nonato e Seu Conjunto
Aqui nada de polêmico, apenas um sample declarado desde o início pelo Mcfly. A banda britânica lançou “Happiness” em 2020, uma canção vibrante que rapidamente capturou a atenção dos fãs. O que muitos não sabem é que a faixa utiliza um sample da música “A Bela e a Fera” do grupo Nonato e Seu Conjunto, um elemento que adiciona uma camada de riqueza cultural e histórica à composição.
Rod Stewart e “Da Ya Think I’m Sexy?” vs. “Taj Mahal” de Jorge Ben Jor
Em um dos episódios mais marcantes da história da música brasileira, o astro internacional Rod Stewart se viu envolvido em uma disputa por direitos autorais com o brasileiro Jorge Ben Jor. A canção em questão? O hit “Da Ya Think I’m Sexy?”, de 1978, que apresentava semelhanças inegáveis com a melodia de “Taj Mahal”, lançada por Ben Jor em 1976.
A história se desenrola em 1978, quando Stewart visitou o Brasil durante o Carnaval. Na época, “Taj Mahal” dominava as paradas de sucesso, e acredita-se que a melodia tenha se impregnado na mente do cantor escocês. O resultado? “Da Ya Think I’m Sexy?”, que rapidamente se tornou um sucesso mundial.
No entanto, a alegria não durou muito. A equipe de Jorge Ben Jor não tardou a notar as semelhanças entre as duas músicas e deu início a uma ação judicial. A mídia acompanhou o caso com grande interesse, e a pressão logo recaiu sobre Stewart.
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Para evitar maiores problemas, os artistas chegaram a um acordo: Stewart doou todos os lucros de “Da Ya Think I’m Sexy?” para a UNICEF. Em 2012, em sua biografia, o cantor finalmente reconheceu a “inspiração” em Jorge Ben Jor, admitindo que a melodia havia ficado em sua mente e ressurgido durante a composição, o que ele classificou como um “plágio inconsciente”.
Black Sabbath e “Sabbath Bloody Sabbath” vs. “What to do?” de Vanusa
Em 1968, no seu álbum de estreia, a faixa “What To Do” trouxe um som pesado com riffs de guitarra marcantes que se encaixavam perfeitamente no clima rock and roll e psicodélico da época.
Alguns anos mais tarde, em 1973, o Black Sabbath lançava “Sabbath Bloody Sabbath”, música que abre o seu quinto álbum de estúdio. E foi aí que a polêmica começou: muitos fãs notaram uma semelhança impressionante entre os riffs das duas músicas.
Mas será que foi plágio?
É importante lembrar que “What To Do” foi lançada poucos anos antes de “Sabbath Bloody Sabbath”. Apesar disso, não há nenhuma confirmação oficial de que Tony Iommi, guitarrista do Black Sabbath, tenha ouvido a música de Vanusa e se inspirado nela.
Do outro lado, Vanusa, que faleceu em 2020, parecia não se importar com as semelhanças. Em 2016, quando questionada sobre o assunto, ela simplesmente disse que era uma “coincidência musical”.
Porém, há quem acredite que o riff de “Sabbath Bloody Sabbath” tenha sido “inspirado” na música “My Size”, de 1971, do disco solo de John Entwistle, lendário baixista do The Who. Agora a pergunta que fica é: “Teria John Entwistle plagiado a Vanusa?”
Esta controvérsia destaca a complexidade das influências musicais e como o processo criativo pode ser permeado por coincidências e inspirações mútuas. A música, muitas vezes, transcende fronteiras e limites temporais, criando conexões surpreendentes entre artistas e gêneros diferentes.
Deep Purple e “Smoke On The Water” vs. “Maria Moite” de Carlos Lyra
Em um curioso caso de intersecção musical, a obra de dois gênios da música, Vinicius de Moraes e Ritchie Blackmore, se entrelaça. A canção “Maria Moita”, composta por Moraes e interpretada por Carlos Lyra em 1964, parece ter influenciado um dos riffs mais famosos do rock: o de “Smoke on the Water”, do Deep Purple.
A introdução de “Maria Moita”, com seu arranjo de sopros marcante, ecoa na melodia do riff de “Smoke on the Water”. Apesar da semelhança inegável, não há registros de acusações formais de plágio.
Ritchie Blackmore, guitarrista do Deep Purple, credita a inspiração para o riff à 5ª Sinfonia de Beethoven, mas com as notas invertidas. No entanto, a semelhança com “Maria Moita” persiste, intrigando musicólogos e fãs.
Este caso ilustra como a música transcende fronteiras e gêneros, mostrando como uma obra pode influenciar outra, mesmo que os artistas estejam em diferentes partes do mundo e em estilos musicais distintos.
A Importância do Reconhecimento e Créditos
Estes casos destacam a importância de reconhecer e creditar devidamente os compositores originais. A música brasileira, com sua riqueza melódica e rítmica, continua a ser uma fonte de inspiração para músicos de todo o mundo. Ao creditar corretamente os artistas originais, celebramos a contribuição da música brasileira para o panorama musical global.
Fontes: G1, Rock n’ Bold
Formado em Publicidade e apaixonado pelo universo da música e das bebidas, Jefferson criou o São Gallö como um hobby, onde compartilha curiosidades e histórias fascinantes desses dois mundos.